domingo, 18 de maio de 2008

Recriação das VOLTAS DO LINHO no Tourigo

Ainda o Sol acabava de se levantar e um conjunto de elementos do Rancho Folclórico Rosas do Tourigo já dava o primeiro passo para a recriação da sementeira do linho na nossa aldeia.
Com a eira e a casa da eira a servir de cenário, algumas pessoas com mais idade, que tão bem sabem o que foi o Tourigo noutros tempos em que os seus campos de linho faziam inveja a quem por ali passava, foram ensinar os novos que, vestidos a rigor, fizeram questão de ouvir atentamente a voz da sabedoria.Sobe a orientação do senhor David Pereira, a reconstituição incluiu a saída de casa com um cesto de vime à cabeça, sobre a rodilha; o transporte das sementes do linho dentro dos sacos de retalhos; o levar da grade às costas, pelo moço e a saída da vaca do curral e respectivo arreio. Caso se tratasse de uma junta de bois, o arado seria engatado ao tamoeiro, seguro por uma chavelha.






A terra, lavrada antecipadamente, foi então passada com o arado, semeada, gradada e para finalizar rascunhada (ancinhada, como antigamente era designada) com ancinhos de madeira, para alisar a terra. No final não pode faltar a boa merenda, com o vinho bebido pelas cabaças e a água pelo cântaro de barro. A acompanhar a broa de milho, com mistura de trigo e centeio, cozida no forno de lenha pela Senhora Maria, e o queijo fresco de vaca caseiro, também ele feito pela senhora Maria.
Durante a sementeira era cantada a cantiga:

Refrão:
“O linho é lindo
O linho é amor
O linho floresce
Na paz do Senhor

Linho que serás fiado
No inverno à lareira
Ficará bem perfumado
Com aroma da fogueira

Refrão


Pelas calvelas do vale
O linho já floresceu
É lindo o nosso linhal
Como o cantinho no céu

Refrão

Oh pastorinha querida
Que está no monte a fiar
Fia o linho bem fininho
Fiar toalhas do altar

Refrão

Oh pastorinha querida
Afina bem a garganta
Fia, fia já o linho
Com trabalho sempre se canta

Refrão”
(Transmitida em 1986, pelo Senhor Alberto, à dona Ana Bela, na altura, para a recriação das voltas do linho no Carnaval.)





A vaca amarela protagonista desta sementeira pertence ao Senhor Delfim Ferreira, bem como a grade de madeira e o acessório usado para orientar a grade, viradoira. Arreada com uma canga (constituída pela piaça, os cangalhos e o brocho) que pertence ao senhor Manuel Rodrigues. O arado (constitui pela rabiça, pelo tamão, pelo teiró, pela chavelha e pelas cuinhas) e os ancinhos de madeira pertencem ao Senhor David Pereira.










Nesta recreação não faltaram os namorados que aproveitavam as sementeiras, dos meses de Maio e os seus característicos dias compridos para se poderem ver. Dai o provérbio:
“Mês de Maio,
Mês de amargura,
Mal amanhece
Já é noite escura.”Os namorados ao encontrarem-se, ela com o cântaro de barro com a água, vinda da fonte, e ele com a grade às contas não deram pelo dia passar porque estiveram juntos, daí se queixarem que os dias eram pequenos.








Está assim dado o primeiro passo para reconstituir, no Tourigo, as voltas do linho. O Rancho convida, assim, todas as pessoas que têm vontade de não deixar morrer aquilo que é nosso, que é das gentes do Tourigo e a todos os que se queiram juntar neste recordar do passado, a continuar a acompanhar esta reconstituição.


3 comentários:

Bruno Santos disse...

Foi uma excelente iniciativa =D

Anónimo disse...

Infelizmente foi impossível ir ao Tourigo neste fim-de-semana. Adoraria ter visto tudo isso. Fico-me pelas fotos, com muita pena minha.
Um beijinho a todos pela iniciativa e continuem, que é disso que o Tourigo precisa.

Anónimo disse...

Sao este tipo de iniciativas que devemos promover! Desta forma será passado o testemunho às geracoes mais novas. O importante é nao deixar que estes costumes caiam no esquecimento! Bem haja pelo vosso empenho! :)